quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

BRUXARIA





Na floresta, em noite de estrelas, fadas e vaga-lumes se confundem.
Figuras estranhas dançam vestidas de negro e cozinham receitas em caldeirão de bruxarias.
Bebo o elixir fantástico, ânsia de sonhos frustrados, para dormir um sono falso de um conquistador de fantasias.

domingo, 27 de janeiro de 2013

CIRANDA





O sol da manhã, morno, aquece o camaleão estirado sobre a pedra, e passa desapercebido.
O tempo em ciranda corre  enquanto Cinderela esfrega o chão.
Uma serpente esverdeada desliza no tronco do salgueiro, serpentina em dia de carnaval.
O sorvete de morango derrete enquanto a menina observa o beija flor na Bougainville maravilha.
O homem procura uma solução para deixar o mundo melhor...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

LUA VAZIA


Depois de tomar um reforçado café da manhã, suco, cereais, um ovo quente e um chá acompanhado de torradas, sente-se pronto para enfrentar o inferno: Tempo e trabalho.
Os cinco sentidos preservados: os ouvidos protegidos pelo gorro estilo esquimó; Olhos por de trás de óculos que quase chegavam a ser máscaras; nariz e boca envoltos no cachecol.
O inverno chegara violento. Parecia mais rigoroso que os anos anteriores. A impressão que tem é que cada vez está mais forte. Assim, também tem sido com as outras estações. A primavera florira fria e exuberante esforço para que o cinza do inverno fosse esquecido no mundo colorido. Ao verão tudo é perdoado. Adorador do sol, o recebe sempre de corpo e alma. Não se conforma com aqueles que reclamam do calor. E neste ano fora escaldante. O outono deixara o mundo mais vermelho e amarelado, as pessoas mais elegantes e até mais bonitas.
Enfim, no momento, vive-se o inverno.
Haroldo trabalha no teleférico, que liga o sopé da Montanha da Cigana ao seu cume, para depois interliga-lo ao Morro do Lobo.
O trajeto para seu trabalho, não é longo. Aliás, ali nada é longe. Apesar de pequeno o lugar tem muito movimento o ano inteiro, por causa das diferentes atrações que oferece.
Haroldo nasceu e cresceu ali. É extremamente supersticioso, e dependente do zodíaco.
Ao chegar no teleférico a primeira coisa que faz é sentar-se com o jornal para ler o que lhe diz seu signo. Depois, abre imediatamente o computador e compara no mapa astral. Ele entende do assunto. Linha para cá, retas para lá e concentradíssimo faz suas anotações. Semana útil para dedicar-se a despreocupação
É Lua vazia, (Como se a lua entrasse em meditação. Cai num vácuo, como se estivesse sem curso, vazia, sem objetivo) não significa impedimento, proibições,mas no caso para uma pessoa como Haroldo, talvez seja melhor não tomar nenhuma atitude no período.
Assim que a primeira viagem do teleférico, sob sua “jurisdição” parte, e se dirige pra o Morro do Lobo soa o sinal de alarme, Haroldo entra em pânico, mas o coloca sobre controle. A lua está vazia.
Lá dentro do carro, sofrendo ao balanço do bondinho pendurado no fio, as pessoas com medo de cair e Haroldo na lua vazia com os pés na terra.
Verifica as anotações. A lua estará vazia até 12h05!
São 9h30. Ficarão os passageiros ali por 3 horas? O alarme continua soando aos ouvidos de Haroldo.O que fazer? Não pode tomar qualquer atitude. Seu horóscopo pede despreocupação. Tranquilidade. Não deve tomar qualquer providência até as 12h05. O mais difícil é o barulho ensurdecedor em seus ouvidos. E ele inerte. Não pensa em pessoas, consequências, nem mesmo no frio lá no teleférico se a pane atingiu a calefação.
O tempo passa. Haroldo ali, aguardando.
Agora faltam apenas dois minutos para poder acionar os bombeiros. Passaram-se 3 longas horas para os dependuradas e tilintando de frio, pois o aquecimento também sofrera pane. A aglomeração fora da cabine de comando já era bem grande. Tumulto. Sirenes.
Quando os bombeiros chegam e as pessoas são trazidas de volta, um burburinho geral. Ambulâncias de prontidão. Que gritava sem saber porque e quem gritava com razão, quem desmaiava , quem espirrava quem tudo e Haroldo apenas justificando “Calma pessoal, vamos com calma, foi culpa da lua vazia, já passou. Peguem o bonde outra vez que vale a pena o panorama. E quem não quiser se aventurar, eu devolvo o dinheiro do bilhete”.
E o chefe da estação passando por entre os furiosos e assustados, vai falando em altos brados ; “Pro olho da rua o senhor , “seu” Haroldo e sua Lua Vazia!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

ACAMPAMENTO



Uma manhã fria e nebulosa. Sai da tenda armada a beira rio. Se estivesse em sua cama macia , com certeza não deixaria o leito tão cedo, mesmo que a luz raiasse por entre as frestas da persiana do quarto.
A relva umedecida pelo orvalho risca a botina de pequenas linhas de água.
Coloca os óculos para viver.
E pensar, que nunca os usara. Mas, com a idade : a vista cansada.
Com a idade tudo vai cansando
Os olhos, os dedos da mão endurecendo, cansados de obedecer; os joelhos passam a “espinhar”,os pés parecem que crescem, requisitando número maior de calçados, os ouvidos começam a captar somente os que lhes agrada e  como querem ouvir e por ai vai indo numa ladainha de  “dói aqui, dói ali,não são mais como eram”.
Embora agasalhada, sente frio. Senta sobre uma pedra próxima  à beira do rio, e deixa o ameno calor que nasce lhe aquecer.
O pensamento voa desnorteado, tentando ver o que ainda lhe resta, mas prefere voltar ao passado.
Os dissabores esmaecendo, perdidos no esquecimento enquanto as boas recordações e alegrias borbulham freneticamente  e terminam o devaneio num acorde: Como fui feliz!
O cheiro do café da manhã perambula pelo ar.
Chega ao cozinheiro, que com maestria em uma cozinha improvisada no campo prepara os alimentos.
Apanha um pastel de massa folhada, perfumado e quente. A primeira dentada, esfarela pelo bordado inglês da blusa. Sacode as migalhas.
Um camundongo de olhar vivo, está a postos. Vai ter banquete na mata.
Um gole de café bem quente reanima todas as forças.
O homem de barba branca observa algo na montanha distante com seu binóculo.
Aquecida e  reanimada prepara-se com todos os companheiros, para mais uma jornada.  Os acompanhantes juntam tudo. Os botes são inflados e colocados na água.
Tomam seus lugares. Uma correnteza  espera para impulsionar os botes.
Continuam descer o Rio Colorado.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

VISITA AO CEMITÉRIO




Resolvemos que iríamos passear pelo cemitério.
Cemitério antigo, o mais antigo da cidade. Guardava restos dos importantes. Os que não o eram, repousavam em valas comuns.
Alí não!
Só gente de renome. 
A verdade é que de pessoas restavam só os nomes, carregados de tradição, pois o resto se diluíra em pó resguardados em caixas de madeiras, que chamamos caixões, pagos bem caro, por causa do ébano, mógno , das alças  de bronze, sei mais o que e para que.
O fato é que ficávamos embevecidas com a arquitetura das tumbas, de mármore, granito, cimento.
Túmulos com estátuas de bronze forjado, lindas mesmo. A que eu mais gostava de ver era a da saudade: Uma mulher com um véu cobrindo-lhe a face e com um ramo de rosa num dos braços e uma mão que despejava uma rosa sobre a lápide.
Alguma vez deparávamos com um túmulo em ruína. De quem seria? 
 Que desleixo. Poderíamos pensar.
 Não, não era desleixo. É que provavelmente os daquela família tinham ido todos. Não tinha mais ninguém para ornamentar e sobretudo para pagar as tachas para prefeitura. 
Por visitante, nada mais que uma lagartixa acinzentada e afoita que arriscava aparecer naquela hora do dia.
Aquela pedra rachada, tombada para a direita com algumas ervas daninhas tentando, a duras penas, ornamentarem  o que sobrava daquela tumba, com apenas um nome RANGEL... Rangel o que ? Rangel só? Sabe-se lá. 
Com certeza ali descansava os restos de um alguém que vivera em tempos de coreto, nos idos dos 800, que usufruíra da moda e dos encontros no parque da cidade. Que comprara algum algodão doce  cor de rosa, a lembrar uma nuvem de poente, cujo neto, vestido de marinheiro, devorava com muita pressa,para que que a espuma rosa não perdesse a vida com o sopro da brisa.
Passeamos muito, minha amiga e eu. Tiramos as mais loucas  e fantásticas conclusões que nossa imaginação poderia criar.
Passeamos entre perdas, saudades, desilusões, amores e paixões. Rimos a bom rir, de tudo que imaginávamos e vez por outra chegamos a ter pequenas emoções.
Deixamos o quarteirão dos mortos na cidade dos vivos e fomos para  nossas casas sem culpa, sem receio de ter ofendido algo sacramentado, apenas recebemos a noite com nossas cabeças e macios travesseiros de plumas.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

DESABAFO DE UMA ABÓBORA



Puta que pariu! Puta que pariu, mesmo! Só falando assim! Mais ou menos desde 1810  que não consigo ter meu destino natural.
Mas qual é seu destino natural?
Virar uma compota, ou mesmo um doce macio por dentro e durinho por fora, aquele da cal, sabe? Ou mesmo um quibebe gostoso acompanhando um moreno, o feijão preto,  com arroz , couve e banana... Mas não. Para mim sobrou viver num círculo vicioso: Virar carruagem , virar abóbora de novo depois da meia noite, virar abóbora para virar carruagem e assim por diante...
Não sei mesmo, porque esta tal de fada madrinha não foi a um ferro velho recauchutar alguma carruagem que por lá estivesse.
 Não, tinha que ser uma abóbora! E ainda por cima com ratos encantados em cavalos a me puxar, ora pois!
Eu madurinha de tudo, no ponto, colorida e forte, poderia ter feito minha viagem dos sonhos, ainda que fosse a última, a um entreposto em cidade grande, ou ir parar nas mãos de um chef de cuisine( isto se eu fosse uma abóbora afortunada, neh!)
Não, mas estou mesmo é debaixo de um feitiço daqueles que costuram a boca do sapo, condenada eternamente a virar carruagem!
Outro dia, no estacionamento de uma destas histórias bestas me sugeriram que colocasse um anuncio num blog qualquer.
Vou tentar , afinal se eu encontrar algum ou alguém que esteja disposto a carregar esta tal de Cinderela por mais alguns séculos...
Usar de criatividade e empregar este tal de marketing, quem sabe... Qualquer coisa como:

“ABÓBORA MORANGA, BONITA E NO PONTO, PROCURA URGENTE CANDIDATO(A) QUE QUEIRA OCUPAR SEU POSTO DE VIRAR CARRUAGEM DE GATA BORRALHEIRA”.

domingo, 6 de janeiro de 2013

HISTÓRIA MATINAL







Bom dia! Foi este seu cumprimento, logo cedo, ao se espelhar.
E quem não corre para o espelho pela manhã? Difícil encontrar um ser possibilitado que não o faça. Arrancou o pijama, ficou nuazinha e gostou do que viu: Em forma, dourada, sem qualquer exagero e feliz! Também com tantos votos de feliz ano novo, como poderia não estar?
Aos 70 e tantos anos ainda se sentiu jovem. Realizada em meu sonho de vinte anos atrás, de estar como Rachel Welch em sua terceira idade. Conseguiu.
É bem verdade que o dito popular afirma que cada um se vê como quer no espelho. Não é seu caso, boa juíza em causa própria. Lógico que gostaria de estar sem as malditas celulite que a incomodam, e muito, em certas partes.
Mas, num balanço total está para melhor do que para pior.
E como consegue?
Sem mistério nenhum.
Primeiramente, a duras penas, tornou-se uma pessoa muito organizada e sobretudo regrada. Alimentação selecionada e coberta de vetos.
Claro que vez por outra , dá uma escapulida.E como são deliciosas estas escapulidas! O álcool, os refrigerantes mais do que nunca, fora. Abre um parêntese , para as tardes, raras, mas que aparecem, em que uma saudade bate mais forte, então a ameniza com um copo de espumante ou de vinho...
Pouco sai à noite e consequentemente, recolhe-se com os pássaros, para poder acordar mais cedo. Gosta de acordar cedo.
Abrir a s janelas e ver a manhã esverdeada do jardim.
Depois, investimento.
Investir no próprio corpo é investimento obrigatório e sem risco, desde de que, bem dosado. Cumpre todas as “obrigações”, com prazer. É por isso que tem resultado. Porque na verdade onde existe satisfação, amor e prazer o resultado é sempre positivo, e o bom dia matinal será sempre prazeiroso. Feliz 2013!