segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

LUA VAZIA


Depois de tomar um reforçado café da manhã, suco, cereais, um ovo quente e um chá acompanhado de torradas, sente-se pronto para enfrentar o inferno: Tempo e trabalho.
Os cinco sentidos preservados: os ouvidos protegidos pelo gorro estilo esquimó; Olhos por de trás de óculos que quase chegavam a ser máscaras; nariz e boca envoltos no cachecol.
O inverno chegara violento. Parecia mais rigoroso que os anos anteriores. A impressão que tem é que cada vez está mais forte. Assim, também tem sido com as outras estações. A primavera florira fria e exuberante esforço para que o cinza do inverno fosse esquecido no mundo colorido. Ao verão tudo é perdoado. Adorador do sol, o recebe sempre de corpo e alma. Não se conforma com aqueles que reclamam do calor. E neste ano fora escaldante. O outono deixara o mundo mais vermelho e amarelado, as pessoas mais elegantes e até mais bonitas.
Enfim, no momento, vive-se o inverno.
Haroldo trabalha no teleférico, que liga o sopé da Montanha da Cigana ao seu cume, para depois interliga-lo ao Morro do Lobo.
O trajeto para seu trabalho, não é longo. Aliás, ali nada é longe. Apesar de pequeno o lugar tem muito movimento o ano inteiro, por causa das diferentes atrações que oferece.
Haroldo nasceu e cresceu ali. É extremamente supersticioso, e dependente do zodíaco.
Ao chegar no teleférico a primeira coisa que faz é sentar-se com o jornal para ler o que lhe diz seu signo. Depois, abre imediatamente o computador e compara no mapa astral. Ele entende do assunto. Linha para cá, retas para lá e concentradíssimo faz suas anotações. Semana útil para dedicar-se a despreocupação
É Lua vazia, (Como se a lua entrasse em meditação. Cai num vácuo, como se estivesse sem curso, vazia, sem objetivo) não significa impedimento, proibições,mas no caso para uma pessoa como Haroldo, talvez seja melhor não tomar nenhuma atitude no período.
Assim que a primeira viagem do teleférico, sob sua “jurisdição” parte, e se dirige pra o Morro do Lobo soa o sinal de alarme, Haroldo entra em pânico, mas o coloca sobre controle. A lua está vazia.
Lá dentro do carro, sofrendo ao balanço do bondinho pendurado no fio, as pessoas com medo de cair e Haroldo na lua vazia com os pés na terra.
Verifica as anotações. A lua estará vazia até 12h05!
São 9h30. Ficarão os passageiros ali por 3 horas? O alarme continua soando aos ouvidos de Haroldo.O que fazer? Não pode tomar qualquer atitude. Seu horóscopo pede despreocupação. Tranquilidade. Não deve tomar qualquer providência até as 12h05. O mais difícil é o barulho ensurdecedor em seus ouvidos. E ele inerte. Não pensa em pessoas, consequências, nem mesmo no frio lá no teleférico se a pane atingiu a calefação.
O tempo passa. Haroldo ali, aguardando.
Agora faltam apenas dois minutos para poder acionar os bombeiros. Passaram-se 3 longas horas para os dependuradas e tilintando de frio, pois o aquecimento também sofrera pane. A aglomeração fora da cabine de comando já era bem grande. Tumulto. Sirenes.
Quando os bombeiros chegam e as pessoas são trazidas de volta, um burburinho geral. Ambulâncias de prontidão. Que gritava sem saber porque e quem gritava com razão, quem desmaiava , quem espirrava quem tudo e Haroldo apenas justificando “Calma pessoal, vamos com calma, foi culpa da lua vazia, já passou. Peguem o bonde outra vez que vale a pena o panorama. E quem não quiser se aventurar, eu devolvo o dinheiro do bilhete”.
E o chefe da estação passando por entre os furiosos e assustados, vai falando em altos brados ; “Pro olho da rua o senhor , “seu” Haroldo e sua Lua Vazia!

Um comentário:

  1. Muito bom este texto.Parabéns pela ideia,me prendeu até o fim.Admiro a sua imaginação...

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